domingo, 21 de agosto de 2016

MITOLOGIA





 
“OS SONHOS, AS  ARTES E OS  MITOS FALAM SOBRE A MESMA COISA”                                                    (Joseph Campbell)



 Freud encontrou primeiramente nos mitos a estrutura de seu campo de pesquisa com a teoria psicanalítica  baseado  no mito  Grego de Édipo. Depois  Jung apresentou  ao mundo uma releitura de Platão com a definição de  arquétipo usando histórias mitológicas como ferramenta para investigar o mundo  inconsciente da psiquê em busca de regiões ocultas onde estivessem gravadas imagens naturalmente típicas do desenvolvimento humano no universo inteiro.




Definir mito e mitologia talvez seja tão complexo como definir a jornada  humana na face da terra. Há ainda quem a entenda como indefinível, em função do seu poder urobórico(  ) de se metamorfosear.
 Uma das maneiras de ver o mito é  como uma tentativa de explicar os questionamentos humanos  e suas dúvidas intrigantes enquanto encarnados no planeta . As histórias da mitologia são imantadas pelo sagrado e tratam dos modelos perpétuos de comportamento da alma humana

 Afinal existe um marco que define o início da mitologia  como hoje a entendemos nas nossas vidas? Não é tão simples assim. Não há um evento ou marco específico, tampouco um conceito claro.

O início pode ter uma relação com a passagem da humanidade de coletor e caçador para a agricultura. A partir daí  parece haver uma  conexão maior com o Cosmos e os acontecimentos e fenômenos naturais  ao seu redor. O poder da lua parece começar a exercer um fascínio e respeito. A figura Lunar, comportando a luz e o poder do Sol, lentamente foi limitando o poder da terra através de suas efêmeras fases e aos poucos foi sendo associada com a fertilidade. Muitos ritos passaram a acontecer para que as colheitas acontecessem. A primavera passou a ser associada a fecundação, o verão a colheita e o inverno ao sacrifício.  E é  a partir desta mistura de eventos naturais e  forças sobrenaturais e o fenômeno da colheita que  começaram  as primeiras adorações que se tem notícia venerando a Deusa da fertilidade da terra.

Deusa da terra fertilizada



Mesmo avançando além do aspecto agrícola, a mitologia passou a estar presente em diversas áreas da vida em sociedades, assim  como diretriz na história da arte.                
O que hoje conhecemos por mitologia clássica Greco-Romana (que é o conjunto de mitos mais popular do mundo) começou com histórias mágicas, sobrenaturais, alegóricas, devassas, selvagens, absurdas, primitivas, intolerantes. Histórias verdadeiras que aconteceram no início dos tempos e outras inventadas como veremos adiante. A finalidade era responder algumas perguntas como:

 Qual a origem do Cosmos?(mito existente para dar uma razão, explicar o desconhecido) 

 De onde vem o trovão e o relâmpago? Para onde vamos após a morte?(mito explicativo) 

Porque escurece quando o Sol desaparece? 

Qual a origem da humanidade na terra?

 Porque as pessoas se enamoram? 

Qual a origem das constelações?

 Como o fogo passou a existir? 

Qual o significado das doenças e da dor?

  Entender o comportamento de certas criaturas,

 a mudança das estações, e outras tantas perguntas.

Caronte o barqueiro

Como não dispunham da ciência e da tecnologia para dar as explicações, extrapolavam na criatividade das respostas que criavam.  Diferente de muitas religiões que surgiram posteriormente, a relação Humanos e Divindades   nem sempre eram harmônicas, mas muitas vezes guiada pela emoção, o que resultava em uma relação muitas vezes dramática. Talvez por isso a mitologia tenha tantas tragédias, guerras, paixões, céu, paraíso, inferno, futuro, passado, heroísmo, fúrias, traições, vinganças. 


Zeus e Leda


A mitologia serviu de base para preencher os mais variados questionamentos lacônicos.

“As imagens, os mitos e os símbolos estão ligados às mais secretas modalidades do ser” (Mircea Eliade)

Uma das maiores dificuldades em entender a mitologia é a questão do tempo. Na Cosmogonia Cristã há um tempo linear com começo, meio e fim representados ou significando respectivamente: gênese, encarnação e apocalipse. Nos mitos  não há necessariamente uma narração contínua e menos ainda  um tempo histórico cronológico de pensar de forma linear. O tempo mítico é atemporal auto-suficiente em sua própria dimensão. Muitos de nós já ouvimos aquela máxima”O Tempo dos Deuses é diferente do tempo do homens”

 

Os seres  humanos são muito   muito semelhantes entre sí. Semelhantes nos corpos, nas aflições, nos contentamentos, descontentamentos e comportamentos.
 Talvez não nos seja possível imaginar o vasto significado da mitologia para as civilizações antigas, mas podemos sentir e entender de maneira semelhante as imagens arquetípicas dos mitos, pois eles representam modelos psicológicos e cósmicos. Podemos comparar a um espelho onde nos vemos como realmente somos. 
Ao entender os seus significados temos uma pista  para entender mais a  humanidade nas mais remotas culturas e as ferramentas para nos tornarmos conscientes da nossa existência.

Joseph Campbell foi uma das maiores autoridades mundiais em mitologia  e utiliza o fenômeno do heliotropismo, que é o movimento das  plantas na direção dos raios solares para comparar a possibilidade do efeito da mitologia em nós.

 Através do mitos podemos voltar-nos para um nível espiritual de consciência, o que não deixa de ser uma alusão a nos voltarmos na direção do Sol, o astro que na astrologia  representa a consciência


Esta consciência que Campbell se refere nos mostra  o quão é importante o conhecimento de nossa mitologia pessoal, da nossa história de vida transpessoal e sagrada.
 A falta deste entendimento pode ser o que faz com que tantas pessoas elejam heróis, atores, músicos, intelectuais, políticos, celebridades em geral para idolatrarem. Arriscam-se assim a  viver a vida através das experiências dos outros, ou vendo a vida através da nuance das  sombras como no  mito da caverna de Platão. Viver a sombra de mitos que não poderemos viver.

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