O PÁTIO E O HORIZONTE

Próximo ao sítio onde moro há um imenso lago com uma bela e arborizada ilha no meio. 

Neste local eu costumo caminhar e correr. Vivem neste local  dezenas de gansos sinaleiros no seu pacato nadar e pastar.

Ontem, ao entardecer,  assisti uma cena inusitada  lá: pousaram nesta ilhota centenas de aves migratórias, destas que enfeitam os céus nas estações transitórias, viajando em bando com forma de “V” desafiando a rosa dos ventos . Provavelmente iam ali se alimentar, banhar e descansar no pernoite

Eu, humano cabeção, que penso por mim e por eles, me pus a refletir ali parado:

Por uma única noite estas duas espécies biologicamente tão semelhantes, mas  arquetipicamente  tão diferentes,  seriam iguais.

 Junto com eles suas diferenças  vão dormir e se dará a conjunção do limitado com o ilimitado, do familiar com o desconhecido, do seguro com o arriscado.

Mas quando os primeiros raios de Sol surgirem no leste, além deles, suas diferenças também acordam. Eles precisam responder aos chamados de suas naturezas. Os gansos vão nadar e pastar e as aves migratórias, em sua viagem imprevista, partem para o incerto azul infinito.

Eu, humano, viajo na idéia de que os gansos possam estar se questionando na curiosidade do “como será?”. As aves migratórias, por sua vez, levam consigo um aconchego raro de acontecer em suas vidas itinerantes.

Eu, humano, lembro dos amores impossíveis, que após uma única e efêmera noite, levam os amantes nos lábios, o gosto da despedida.