sábado, 5 de outubro de 2019


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A ROCA DO DESTINO E AS ORDENS DO AMOR

Na mitologia grega clássica o destino era um caso a parte com relação aos Deuses do Olimpo. O destino não obteve uma divindade própria, era considerado simplesmente um grande regulador da vida. Por isto, o destino,  além de estar acima dos homens, estava também acima dos Deuses- inclusive acima do soberano do Olimpo, Júpiter(ou Zeus) que obedecia os seus designios e apenas governava o que fora criado pelo destino.
A aparição do destino mais frequente era representado pelas MOIRAS, que eram 3 mulheres irmãs que fiavam a meia luz e em silêncio. A própria etimologia da palavra MOIRA  nos remete ao significado de suas funções no Cosmos. MOIRA = PARTIR/ REPARTIR  E de fato, eram estas divindades quem determinavam qual a parte ou proporção do destino que caberia a cada ser humano no seu nascimento(favorável ou não) . São elas:
CLOTO, “a fiandeira”- é a mais jovem. É quem segura a roca e com o fuso vai puxando e tecendo fios multicoloridos de todas as qualidades, de acordo com o tipo de vida vindoura. Fios de seda dourados para as existências mais prósperas e luminosas, outras com fios de linho branco e preto para as vidas menos ressonantes e mais desafiadoras.

LÁQUESI, a “sorteadora” ou a “medidora”- É quem dá a volta no fuso e com o fio da vida apresentado pela irmã tece o pano da vida e mede a sua extensão. É ela quem acrescenta o elemento da chance.

ÁTROPOS, a “cortadeira” ou a “inflexível”. É a mais idosa. Com visão atenta e olhar taciturno em seu trabalho é ela quem, com sua tesoura comprida, corta o fio improrrogável da vida; velhos, jovens, crianças, ricos ou pobres.

Além de destino, as Moiras eram conhecidas também por sorte, carma, etc. Juntas elas são as negociantes do carma, da ordem natural e distribuição do tempo de vida dos mortais.
    Da Grécia clássica para o século 21, temos  Bert Hellinger, que partiu deste plano no último dia 19 de setembro de 2019. Entretanto,  deixou para a humanidade um imenso acervo de conhecimento, pesquisas, técnicas, práticas  e vivências curadoras. Foi ele quem sistematizou e trouxe para o mundo as Constelações Sistêmicas Familiares.
 Um dos alicerces deste trabalho são as 3 ordens do amor: o direito ao pertencimento, o  equilíbrio entre o dar e o receber e  a hierarquia . Esta última, a hierarquia, considera que quem chegou antes tem precedência com relação a quem chegou depois. Ou seja, via de regra, devemos respeito e reverência a quem chegou antes.
Nas minhas vivências na Índia Hindu, percebi esta ordem na prática cultural de um povo, visto que os indianos, em sua maioria, não conhecem Hellinger  e mesmo  a história de Jesus!
Lá os mais jovens, ao chegarem em um ambiente onde há um mais velho se curvam e tocam suavemente nos  pés daquele mais velho  e trázem a mão até a testa. Este ritual é um sinal de respeito pelos caminhos que esta pessoa mais velha já andou( e que via de regra o mais jovem ainda não) . Como resposta a reverência o mais velho responde com um “SAL SAAL JIYO”
सौ साल जियो
- que significa “viva cem anos” que é uma espécie de benção e também agradecimento para o mais jovem.
Mas voltamos para a hierarquia aqui do ocidente...
Quando se trata de pais e filhos ou de cuidadores e cuidados(avós, tios, tias, irmãos, etc.), quando chega um mais novo, já havia um sistema/modelo formado/estabelecido.
 Pela proximidade, amor, instinto de sobrevivência, hereditariedade, dependência, fragilidade, medo, pouco resta para quem chega depois a não ser reproduzir, copiar aquilo que está posto no ambiente daquele sistema. Naquele momento isto se dá sem grandes criatividades ou pretensão de ser um gênio contemporâneo.
Então, os exemplos que os pais ou cuidadores passam para seus filhos são de fundamental e decisiva importância. Isto porque imitamos aquilo que vemos e sentimos e não o que nos dizem aqueles que são para nós referência.  Aquele velho ditado: “ faça o que eu digo e não o que eu faço”, na prática não é eficaz...
Como exemplo, um filho que vê e vive a forma como seu pai, sua mãe ou o seu cuidador trata e cuida dos seus avós ou de outras pessoas mais velhas, idosas, será decisivo na forma como ele os tratará na sua velhice, se esta responsabilidade a ele couber.
Quando vemos então o emaranhado do abandono nos hospitais, clínicas e asilos de pessoas idosas, também não há nada de novo na atitude de quem abandonou. A roca das fiandeiras deram voltas e mais voltas a tramar este destino. E o modelo de cuidado que este filho viu e sentiu ser dispensado aos seus avós ressurgirá renovado, com gás e fôlego quando chegou  a vez dele ter que dispensar algum cuidado com seus pais velhos.  Assim como o que ele aprendeu /imitou não é criativo, as Moiras também não são criativas, e além de tudo são inflexíveis no ranger de suas rocas: Reservam para a colheita somente aquilo que plantamos.
E isto vai se reproduzindo de geração em geração até que alguém da família transforme a “maldição” familiar em benção, e consiga colocar em ordem o que está desordenado no seu sistema familiar, o que na maioria das vezes não é uma tarefa nada fácil, mas que pelo sabor da colheita vale muito a pena!(Beto Zaquia-05.10.2019)