
A
ROCA DO DESTINO E AS ORDENS DO AMOR
Na mitologia grega clássica o destino era
um caso a parte com relação aos Deuses do Olimpo. O destino não obteve uma
divindade própria, era considerado simplesmente um grande regulador da vida.
Por isto, o destino, além de estar acima
dos homens, estava também acima dos Deuses- inclusive acima do soberano do
Olimpo, Júpiter(ou Zeus) que obedecia os seus designios e apenas governava o
que fora criado pelo destino.
A aparição do destino mais frequente era
representado pelas MOIRAS, que eram 3 mulheres irmãs que fiavam a meia luz e em
silêncio. A própria etimologia da palavra MOIRA
nos remete ao significado de suas funções no Cosmos. MOIRA = PARTIR/
REPARTIR E de fato, eram estas
divindades quem determinavam qual a parte ou proporção do destino que caberia a
cada ser humano no seu nascimento(favorável ou não) . São elas:
CLOTO, “a fiandeira”- é a mais
jovem. É quem segura a roca e com o fuso vai puxando e tecendo fios
multicoloridos de todas as qualidades, de acordo com o tipo de vida vindoura.
Fios de seda dourados para as existências mais prósperas e luminosas, outras
com fios de linho branco e preto para as vidas menos ressonantes e mais
desafiadoras.
LÁQUESI, a “sorteadora” ou a
“medidora”- É quem dá a volta no fuso e com o fio da vida apresentado pela irmã
tece o pano da vida e mede a sua extensão. É ela quem acrescenta o elemento da
chance.
ÁTROPOS, a “cortadeira” ou a
“inflexível”. É a mais idosa. Com visão atenta e olhar taciturno em seu
trabalho é ela quem, com sua tesoura comprida, corta o fio improrrogável da
vida; velhos, jovens, crianças, ricos ou pobres.
Além de destino, as Moiras eram
conhecidas também por sorte, carma, etc. Juntas elas são as negociantes do
carma, da ordem natural e distribuição do tempo de vida dos mortais.
Da
Grécia clássica para o século 21, temos Bert Hellinger, que partiu deste plano no
último dia 19 de setembro de 2019. Entretanto, deixou para a humanidade um imenso acervo de
conhecimento, pesquisas, técnicas, práticas e vivências curadoras. Foi ele quem
sistematizou e trouxe para o mundo as Constelações Sistêmicas Familiares.
Um
dos alicerces deste trabalho são as 3 ordens do amor: o direito ao
pertencimento, o equilíbrio entre o dar
e o receber e a hierarquia . Esta
última, a hierarquia, considera que quem chegou antes tem precedência com
relação a quem chegou depois. Ou seja, via de regra, devemos respeito e reverência
a quem chegou antes.
Nas minhas vivências na Índia Hindu,
percebi esta ordem na prática cultural de um povo, visto que os indianos, em
sua maioria, não conhecem Hellinger e
mesmo a história de Jesus!
Lá os mais jovens, ao chegarem em um
ambiente onde há um mais velho se curvam e tocam suavemente nos pés daquele mais velho e trázem a mão até a testa. Este ritual é um
sinal de respeito pelos caminhos que esta pessoa mais velha já andou( e que via
de regra o mais jovem ainda não) . Como resposta a reverência o mais velho
responde com um “SAL SAAL JIYO”
सौ साल जियो- que significa “viva cem anos” que é uma espécie de benção e também agradecimento para o mais jovem.
सौ साल जियो- que significa “viva cem anos” que é uma espécie de benção e também agradecimento para o mais jovem.
Mas voltamos para a hierarquia aqui do ocidente...
Quando se trata de pais e filhos ou de cuidadores e
cuidados(avós, tios, tias, irmãos, etc.), quando chega um mais novo, já havia
um sistema/modelo formado/estabelecido.
Pela proximidade,
amor, instinto de sobrevivência, hereditariedade, dependência, fragilidade, medo,
pouco resta para quem chega depois a não ser reproduzir, copiar aquilo que está
posto no ambiente daquele sistema. Naquele momento isto se dá sem grandes
criatividades ou pretensão de ser um gênio contemporâneo.
Então, os exemplos que os pais ou
cuidadores passam para seus filhos são de fundamental e decisiva importância.
Isto porque imitamos aquilo que vemos e sentimos e não o que nos dizem aqueles
que são para nós referência. Aquele
velho ditado: “ faça o que eu digo e não o que eu faço”, na prática não é
eficaz...
Como exemplo, um filho que vê e vive a
forma como seu pai, sua mãe ou o seu cuidador trata e cuida dos seus avós ou de
outras pessoas mais velhas, idosas, será decisivo na forma como ele os tratará
na sua velhice, se esta responsabilidade a ele couber.
Quando vemos então o emaranhado do abandono
nos hospitais, clínicas e asilos de pessoas idosas, também não há nada de novo
na atitude de quem abandonou. A roca das fiandeiras deram voltas e mais voltas
a tramar este destino. E o modelo de cuidado que este filho viu e sentiu ser dispensado
aos seus avós ressurgirá renovado, com gás e fôlego quando chegou a vez dele ter que dispensar algum cuidado com
seus pais velhos. Assim como o que ele
aprendeu /imitou não é criativo, as Moiras também não são criativas, e além de
tudo são inflexíveis no ranger de suas rocas: Reservam para a colheita somente
aquilo que plantamos.
E isto vai se reproduzindo de geração em
geração até que alguém da família transforme a “maldição” familiar em benção, e
consiga colocar em ordem o que está desordenado no seu sistema familiar, o que
na maioria das vezes não é uma tarefa nada fácil, mas que pelo sabor da
colheita vale muito a pena!(Beto Zaquia-05.10.2019)